Gerações se reúnem em maior encontro do tênis feminino brasileiro

27 de maio de 2020
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Organizado pela diretora executiva do IPM (e ex-número 1 do Brasil por 11 anos consecutivos, nas décadas de 70 e 80), Patrícia Medrado, e pela principal tenista brasileira na atualidade, Bia Haddad Maia, aconteceu na noite desta terça-feira (26) um encontro virtual com representantes de diferentes gerações do tênis feminino do Brasil.

Além de Bia e Medrado, nomes como Gabriela Cé, Teliana Pereira, Luisa Stefani, Dadá Vieira, Luciana Tella, Vera Cleto, Roberta Burzagli, Carol Meligeni, Sabrina Giusto, Carla Tiene e Letícia Sobral se reuniram na plataforma Zoom para um extenso debate sobre a posição da mulher no mundo do esporte. Ao todo, quase 90 pessoas acompanharam a ‘Live’.

Durante quase duas horas de conversa, foram abordados temas como representatividade da mulher no tênis, diferenças na premiação em relação aos homens, assédio, maternidade e outros tópicos ligados à realidade feminina no universo esportivo, dentro e fora das quadras.

Segundo Patrícia Medrado, este foi um encontro histórico, nunca antes visto. “É a primeira vez que conseguimos reunir tantas tenistas, representantes de diferentes gerações, para trocar experiências, compartilhar dificuldades, dores, histórias. Esse tipo de união é muito importante para que a gente consiga obter mais reconhecimento e facilidades”, disse.

Uma das fundadoras da Liga Feminina de Tênis – LIFT nos 1970 ao lado de Medrado e outras atletas da época, Vera Cleto citou a empreitada que mudou a história da modalidade entre as mulheres no Brasil para fazer um paralelo com a ação atual e mostrar como essa união pode, de fato, trazer grandes resultados. “A LIFT foi uma liga criada por mulheres lutadoras, sofredoras. Foi um marco para o tênis feminino brasileiro. Queríamos criar um movimento em prol da igualdade de premiação e dos nossos direitos dentro dos torneios, e, através disso, criamos uma liga que deu origem ao circuito mais importante do tênis feminino já disputado no Brasil”, recordou.

A criação da liga, somada ao famoso boicote das atletas no Brasileiro de 1980, liderado por Patrícia em protesto à tamanha desigualdade, mudou significativamente o cenário de premiação no país. Internacionalmente falando, principalmente nos Grand Slams e torneios como os Masters 1000 (ATP) e Premier (WTA), a equivalência nos valores para homens e mulheres foi alcançada ao longo dos anos, mas o mesmo ainda não é visto nas competições menores.

“Não só no Brasil, mas no mundo todo, ainda existem alguns torneios 125k (equivalentes aos challengers, no masculino) e futures em que as meninas chegam a receber até um terço do que ganham os homens. O tênis ainda é um esporte no qual a mulher mais ganha dinheiro, mas em outras modalidades há uma diferença muito maior, em que não somos nem um pouco valorizadas”, explicou Bia Haddad.

Em outro momento do debate, a capitã do time brasileiro na Fed Cup, Roberta Burzagli, recordou uma situação ocorrida no Banana Bowl de 1991, em Santos. “Disputei a final daquele torneio numa quadra lá nos fundos do Tênis Clube de Santos, enquanto na quadra principal havia um jogo masculino sem nenhum brasileiro. Lembro que a notícia da semifinal foi exatamente assim: “Saliola perde, mas Burzagli ganha”, lamentou.

Hoje, no entanto, ela já enxerga mudanças positivas em relação às mulheres no esporte. “Colocar uma mulher como capitã da Fed Cup é um bom começo. Mostra que estão pensando um pouco mais na gente e dando espaço, valorizando o nosso trabalho. Há muito ainda a fazer e melhorar, mas é um começo”, ponderou.

Para Medrado, um dos caminhos para uma mudança realmente drástica é que as mulheres ocupem mais cargos políticos e de relevância nas entidades esportivas, hoje um número irrisório. “Das 26 federações estaduais de tênis que temos ou mesmo na CBT, apenas três mulheres ocupam cargos importantes. Em Pernambuco, Tocantins e Mato Grosso temos três vice-presidentes. E só. Por que nenhuma dessas federações tem sequer um departamento feminino?”, questionou a tenista baiana.

“Histórico”, como definiram as participantes, esse encontro pode ser considerado o início de uma união promissora que visa fortalecer o tênis feminino brasileiro, atendendo a pedidos por direitos de igualdade e melhorias na estrutura do esporte no país. “O que podemos tirar desse debate? Pensar em ações claras e unificá-las para que possamos criar soluções efetivas, que cresçam e tomem outra proporção”, avaliou Letícia Sobral.